Artes Visuais

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Brincadeira


Deitada no sofá, a cidade girando em sua cabeça, Rita suspirava uma saudade que não encontrava morada. A casa anoitava. Na mesa de centro, ao lado do jornal de qualquer outro dia, um pirulito vermelho brilhava encaracolando cores: não tenho crianças. Estranhou.

Caminhou suspensa pela casa com o doce na mão, esperando não encontrar um bebê abandonado. No quarto, cantando ciranda com as bonecas, uma menina olhou Rita com alegria: oi mãe, acordou? Retomou lembranças, vasculhou nomes, anos esquecidos. Nada, nem um vestígio de gravidez, adoção ou trabalho de pajem. Entretanto, com ternura desvelada naquele instante, recolheu a pequena em seus braços, beijou sua cabeça enquanto a ninava pelo nome. Minha menina, mamãe está aqui. Estou tão cansada, mas quero brincar com você, viajar, velejar entre ilhas.

- Filha...filha!

A menina Rita desviou o olhar hipnotizado das redondilhas do pirulito. O pai a chamava: onde estava? Ela riu: esqueci.

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