Artes Visuais

sábado, 12 de maio de 2012

Longa Metragem - Capítulo III

Jandira cresceu na França, ao lado da mãe e do padrasto, um radialista afamado; adolescente, arriscou algumas falas em peças de teatro escolares; aos vinte anos criou um nome e fez um filme que nem chegou ao Brasil, mas sabe-se que levou multidões e prêmios aos magotes. Em uma entrevista para o Cine-Jornal revelou: era brasileira de Itaponga do Norte. O nome da cidade ressoado em todo o planeta envaideceu até os cães ressequidos que lambiam moscas nas ruas. Éramos ilustres como ela, a jovem atriz. Afora o local de nascimento, não revelou parentesco, rua ou quintal. Ninguém na cidade se lembrava de Camille Delacroix. Até que o Jornal do Norte, agora nas mãos de um sobrinho de Luís, revelou: era Jandira, a filha da fugitiva, como Maria Eduarda era tratada pela família do falecido.
Logo, jornais de todo o país visitaram a cidade em busca de informações: amigos, antigas professoras, pia batismal. E não adiantava dizer que a menina deixou o lugar ainda muito pequena, nem que jamais voltou ou mandou notícias, qualquer marca de sua passagem era notícia. Apesar do rebuliço, ninguém na cidade viu o tal filme, e as primeiras fotos chegaram junto com os repórteres. Procuravam também por Luíza, filha de Esmeraldina, curiosidade em saber quais as semelhanças entre a estrela e a meia-irmã. Esta, junto com a mãe, deixou a cidade logo após a morte de Luís e ninguém mais ouviu suas presenças, confabulavam uma possível entrada num monastério, ou um negócio arranjado com os Peres da Cruz. Tudo se tornou motivo para falar de Camille, digo, Jandira.
Devo confessar que aos quinze, dezesseis anos, eu achava quase todas as mulheres bonitas e não via nas fotos que me mostravam uma jovem muito diferente das outras da cidade. Inclusive meu encanto tinha como alvo as pernas cobertas de Dulce, a vizinha de vinte e quatro anos, mesma idade da afamada. Dulce, professora da Escola Santa Ceia, nome propício ao que eu enxergava nela. Recitava poemas à sua saída de casa, ele apenas ria de meus versos roubados e continuava o caminho. Como eu deseja ter pouca idade para receber suas lições, sentir seu hálito próximo do rosto.

Um comentário:

  1. Sei o fim da história, mas não vou contar.
    Conheço a Jandira desde que ela nasceu. Não em Itaponga do Norte, mas na cabeça do Tadeu.
    Isso já faz alguns anos, mas eu sempre me lembrei claramente de todos os detalhes que estou lendo novamente, e tenho a sensação de estar sendo transportado para aquela época, com aquela mesa cumprida cheio de livros espalhados e histórias sendo criadas.

    Obrigado, Tadeu.

    Gatti

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