A poesia como um espanto, uma
perscrutação sobre a existência. A linguagem mínima que perfure o que não é
linguagem. A poesia como amante da filosofia, uma amante que não deseja nem
fidelidade, muito menos lealdade. Sempre foi, sem planejar, um caminho da minha
escritura. Fernando Pessoa, Drummond, as máquinas do mundo: são poetas da
pergunta, cada qual em sua estrada, mas nenhum me é familiar. Depois da leitura
de Nietzsche me tornou impossível continuar a fazer a pergunta
(estética-existencial) usando a linguagem cotidiana, ainda que transformada
pela poética. Cada vez mais se faz necessário, para mim, a construção de uma linguagem
outra, que invente uma sintaxe, que gagueje um idioma.
--------------------------------------------
XXVI
Mais que a existência
É um mistério o existir, o ser, o
haver
Um ser, uma existência, um
existir —
Um qualquer, que não este, por
ser este —
Este é o problema que perturba
mais.
O que é existir — não nós ou o
mundo
Mas existir em si?
Fernando Pessoa, em O Primeiro
Fausto
Nenhum comentário:
Postar um comentário