Artes Visuais

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Leituras - Vaca de Nariz Sutil, de Campos de Carvalho


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Vacsa de Nariz Sutil - quadro de Jean Dubuffet




















Pode parecer um esbanjamento, mas são tantos os eus atrás de um simples eu que a medida se impõe, e mais se poria se o governo não fosse tão obtuso, e os vizinhos, e a Igreja, e todos os que se contentam com um nome para definir o indefinível e o caos. Com esse estratagema, e outros mais, a começar pela mudança do timbre da voz e do modo de andar ou recostar-se, trate de ver a s coisas como se acabasse de chegar a uma terra estrangeira que simplesmente não figure em nenhum mapa, onde a sua presença tenha que permanecer incógnita, como de fato ela é incógnita para você mesmo,sob risco de represálias e tortura indescritíveis, a menor delas à volta da própria consciência.

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 Fico pensando comigo o porquê de certas coisas e não atino com vontade nenhuma que preste. Sei que há verdades de todos os tipos, para todos os gostos, é estender a mão e colher, como num bazar onde toda mercadoria fosse gratuita ou onde o dono fizesse vista grossa para nossos pequenos furtos. Teio em examinar, porém, a mercadoria pelo direito e pelo avesso, o fato mesmo de ser gratuita me deixa suspeitoso e por fim cético, gratuito basta-me eu; e a boa vontade do nodo acaba por cimentar minha perplexidade, ninguém dá a outrem uma verdade como quem dá uma maçã, por exemplo.

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Talvez eu esteja sonhando: não estou; ou bêbado: nem tanto; não se sonha um sonho mas apenas a realidade, eu sinto o peso do corpo, mas como se não me pertencesse, subo-me aos ombros para atravessa essa vau de silêncio, já me aconteceu antes e não acordei depois, é uma espécie de levitação sem o corpo: (...) desabarei sobre mim como um castelo de cinzas.

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