Notas sobre o Rosto
Não
vejo meu rosto em sonhos; nem sequer em um reflexo. Sou sempre, como na
vigília, aquele que que está por trás do rosto. E, no entanto, sou
também meu rosto. O rosto é um lugar utópico com o qual me apresento ao
mundo, mas do qual não tenho conhecimento.
O
espelho só mostra o que eu procuro perceber. Um retrato é sempre
registro do que fui anteriormente, nunca minha expressão presente.
Um
rosto é um sistema muro branco – buraco negro, um projeto de identidade
que se impõe sobre nossa face. Este É você, diz o rosto social. Se o
homem tem um destino, esse será mais o de escapar ao rosto, desfazer o
rosto e as rostificações, tornar-se imperceptível, tornar-se clandestino
(Deleuze/ Guatarri).
Desconfigurar o rosto é tentativa de escape de tudo que previamente nos mascara com definições.
Maquiar, plastificar, des-cara-cterizar:
um rosto é um escândalo (Bataille).
Essas selfies são em construção, como só poderia ser um rosto em fuga, um rosto que escapa por meio das imagens de um “inconsciente-tecnológico.”
Expor
estes anti-retratos é busca de suportes diferentes: impresso,
projetado, virtualizado, colocado de pé em um objeto tridimensional.
Em que outros corpos cabem tais rostos?
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